Com uma variedade de autores consagrados, como a escritora de mais de 200 livros infantis Ruth Rocha, a 4ª edição d’A Feira do Livro chega a seu último fim de semana também com espaço para novos nomes da literatura, como André Gravatá, que marcou presença no evento com seu livro infantil O Converseiro da Natureza.
O festival literário paulistano a céu aberto, que ocorre na Praça Charles Miller, em frente ao Estádio do Pacaembu, conta com mais de 200 convidados na programação oficial, ao longo dos nove dias do evento, que vai até este domingo (22). A entrada e as atividades são gratuitas.
Escritora Ruth Rocha. Nágila Rodrigues/Divulgação
Nesta edição da feira, a editora Salamandra lançou a coleção de quatro volumes Ler e Brincar, desenvolvida por Ruth Rocha junto à também autora Anna Flora.
“No caso dos livros didáticos e paradidáticos, a Anna Flora é responsável pela minha entrada nesse campo. Nós temos uma tendência para essa coisa de ensinar brincando”, disse Ruth Rocha, acrescentando que elas trabalham muito bem em parceria.
Aos 94 anos e como grande referência da literatura brasileira, Ruth tem livros publicados em 25 idiomas, além de oito prêmios Jabuti.
A autora estava prevista na programação d’A Feira do Livro para uma tarde de autógrafos, mas não pode participar por questões de saúde. Em entrevista à Agência Brasil, ela contou que o encontro com o público lhe traz muita satisfação. “Eu gosto muito de participar, gosto muito de encontrar os leitores. É uma ocasião em que a gente vê de verdade o amor que a criança tem pelo livro, é uma resposta objetiva ao que a gente faz”, disse Ruth. Com mais de 40 milhões de exemplares vendidos, ela alcançou leitores de diferentes gerações.
Novos leitores
Ruth se diz com esperança em relação ao espaço que a leitura ocupa na formação das crianças e dos jovens, ainda que as redes sociais estejam em alta neste momento.
“Eu tenho um recorte de jornal ─ de muitos anos atrás ─ que diz que, com a invenção da bicicleta, as crianças não iam mais gostar de ler. E a gente viu que não aconteceu nada disso. Eu acho que esse é o melhor argumento para dizer que a leitura não vai ficar à parte”, disse com otimismo.
“Essa coisa de internet vai atrapalhar algumas crianças. As crianças que não leem bem, por exemplo, vão gostar mais da internet. Então, cabe aos pais e aos professores que as crianças leiam bem, sejam bem alfabetizadas, tenham um bom vocabulário, para gostar de ler. Mas eu não creio que a leitura vai deixar de existir”, ponderou.
Representando uma geração mais recente de escritores, André Gravatá avalia que a leitura amplia o olhar, a escuta e a percepção da realidade. “E a literatura para as infâncias é a chance de viver essa ampliação desde o início da vida. Para não esquecer que a vida é vasta. Que inúmeras são as vozes, culturas, alegrias, dores”, disse, em entrevista à Agência Brasil.
“A literatura para as infâncias vai expandindo o mundo da criança, o mundo vai se tornando ainda maior, misterioso, surpreendente. A literatura para as infâncias é um gesto de cuidado, de cuidar, pra não morrer o brilho da curiosidade, da poesia, do corpo”, acrescentou.
Criação de uma obra
Sobre seu novo livro infantil, O Converseiro da Natureza, Gravatá revelou que muitas conversas com crianças apaixonadas por bichos o inspiraram, além do espanto e curiosidade no encontro com tartarugas, pássaros, plantas, formigas, entre outros tantos seres.
“Visitar minha avó, no sertão da Bahia, de onde vêm minhas origens, e ela me contar de como é a relação dela com um bicho chamado catende [um pequeno réptil], também me marcou muito.”
Escritor André Gravatá. Giuliano Tierno/Divulgação
“Cada vez mais, eu sonho com uma literatura ‘biocêntrica’, palavra que ganhou importância pra mim quando ouvi o líder indígena Ailton Krenak falar sobre ela, e imagino que uma literatura biocêntrica pode trazer para o centro as várias formas de vida, não só a humana”, acrescentou.
Antes do trabalho mais recente, ele criou outro livro como resultado do diálogo com as crianças, chamado O Pulo da Carpa. Segundo o autor, o que o aproxima cada vez mais da literatura infantil é perceber que as crianças o ensinam a ser poeta.
“Quando me apresento para um adulto e digo que sou poeta, ele já me pergunta como pago minhas contas. Quando me apresento para uma criança e digo que sou poeta, ela me pede um poema imediatamente, me pede pra fazer poesia”, contou.
“Quando escuto as crianças falando que, ao lerem um livro, sentiram vontade de contar suas histórias, sinto que aí está acontecendo um ato precioso demais. É fundamental, desde criança, encontrar diferentes jeitos de se expressar, de dar vazão ao infinito que acontece dentro do corpo ─ isso é também saúde”, disse o escritor.