Na Bolívia, o carnaval de Oruro deslumbra e surpreende pela sua majestade, variedade de danças, trajes multicoloridos e alegria. Diferente de outros carnavais, o de Oruro é uma peregrinação de três quilômetros e meio, dançando, até o Santuário da Virgem de Socavón, que é venerada.
A história conta que o carnaval de Oruro começou como uma procissão que evoluiu para uma peregrinação e depois se converteu em dança e música.
“A principal razão do carnaval de Oruro é a devoção que temos à Mãe de Socavón. Nos sábados de peregrinação dançamos em sua devoção, por todos os favores que nos faz, porque somos seus fiéis”, conta a dançarina Nancy Bejarano, que participa do cortejo.
“Venho todos os anos, a pequena virgem sempre me ajuda, cuida da minha família”, diz o também dançarino Wilder Ajachu.
Para a dançarina Marcela Calle, a motivação está na fé: “pela fé à virgem de Socavón damos a nossa vida, saúde e continuaremos dançando enquanto nossa mãe nos mantiver com vida e saúde”.
Este carnaval tem 20 especialidades de dança, segundo as autoridades locais do evento, e conta com mais de 50 mil dançarinos. São homens e mulheres que dançam por 3,5 quilômetros até chegar ao Santuário da Virgen de Socavón.
O evento atrai também público estrangeiro. “Espetacular, viajamos do chile para aqui uma vez por ano, porque somos chilenos. É incomparável! Trouxemos nossa filha pela primeira vez e ela ficou fascinada. É algo que não se compara com nenhum carnaval”, diz a turista chilena Carla Berríos.
As danças mais antigas e clássicas têm sentido religioso e social. Como o diabo, cuja origem se perdeu antes do colonialismo espanhol, mas quando isso [o carnaval de Oruro é] produzido, significa mais uma vez a luta entre o bem e o mal. No final, o anjo Gabriel guiado pela virgem derrota os demônios. E, juntos, entram na igreja católica.
O dançarino Fernando Ortiz faz a peregrinação em agradecimento à virgem: “agradecer por tudo que ela nos dá. Esta peregrinação é uma promessa que pagamos com a dança. Mostramos, através da dança, a nossa gratidão, a nossa fé fortalecida no amor à virgem. Feliz por se colocar em pé.”
A dança morenada reproduz a travessia de escravizados da África, a pé, para as minas de Potosí, nas terras altas, a 4 mil metros acima do nível do mar, quase sem oxigênio. Com a língua pendurada para fora da boca, os olhos saltavam de suas caras. A matraca toca o som das correntes. A peregrinação termina de joelhos, diante da imagem da virgem:
“Cansada, são 4 quilômetros muito intensos, de concreto, até chegar aqui à pequena virgem, em mais um ano”, conta a dançarina chilena Vanessa Osses.
A também dançarina Modai Cabrera se diz abençoada: “sinto-me muito abençoado pela virgem de Socavón, muito feliz por completar meus três anos [de desfile]. Vou continuar se a pequena virgem me permitir, claro que sim.”
Cada dança tem um significado e aqui as danças indígenas da amazônia, e os principais costumes de diversas cidades da Bolívia, são representados por 50 mil dançarinos e quase 20 mil músicos distribuídos em 70 bandas.
Esta expressão cultural foi reconhecida pela Unesco como patrimônio oral e imaterial da humanidade.
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