*Por Fernanda Stafford, Engenheira Ambiental, Doutora em Ciência e Engenharia de Materiais, consultora do Grupo Isorecort

Com o aumento do interesse do mercado por modelos de negócios sustentáveis, cresce também a procura por materiais que, além de trazerem técnicas inovadoras, têm como característica a redução do impacto no meio ambiente. A atenção a esta questão tem estado no radar dos consumidores. O estudo sobre “Estilos de Vida”, publicado pela Nielsen em 2019, já apontava que 42% dos consumidores brasileiros estavam mudando seus hábitos de consumo a fim de poluir menos o planeta, enquanto 30% dos entrevistados declararam estar atentos aos ingredientes que compõem os produtos.

Vejamos o exemplo do banimento dos canudos plásticos em São Paulo. Apesar da resistência da população no início, hoje os paulistanos já se acostumaram com os de papel, ou a simplesmente não usarem canudos. Entretanto, ações assim não levam necessariamente à conscientização sobre a responsabilidade para o descarte correto de materiais recicláveis. Há um movimento parecido durante as festividades de Carnaval, em que consumidores mais conscientes passaram a evitar o glitter com microplásticos, mas é comum encontrar ruas repletas de resíduos que seriam facilmente recicláveis se fossem corretamente destinados.

E quanto ao EPS, ou poliestireno expandido (popularmente conhecido como “isopor”)? É importante que as pessoas saibam que ele é, em sua essência, um material com forte apelo ambiental em todo o seu ciclo de vida produtivo. Isso porque ele é composto por 98% de ar e apenas 2% de matéria-prima. Ele é isento de produtos tóxicos ou perigosos, tanto para o ambiente como para a camada de ozônio (é isento de CFCs). E ao final de sua vida útil, ele é 100% reciclável, o que considero uma característica muito importante nos materiais contemporâneos.

Como se recicla o EPS?

O “isopor” conta com um processo relativamente simples de reciclagem, que não precisa de insumos químicos. O método mais utilizado no Brasil é o mecânico, que começa separando as peças contaminadas por tintas e outras substâncias daquelas que estão livres de impurezas, promovendo assim o retorno do poliestireno expandido ao ciclo produtivo.

Após essa etapa, o material ‘limpo’ segue para as máquinas degasadoras, que retiram o ar presente no interior das peças, reduzindo o volume do material em até 90%. Em seguida, o composto passa por etapas de trituramento, processamento e aquecimento, e por último, por uma máquina extrusora que prepara o EPS para a criação de paletes. 

A reciclagem mecânica é o modelo adotado pelo Grupo Isorecort, que recebe os resíduos por meio da logística reversa e de cooperativas que o recolhem das vias públicas, assim como todas as sobras que são recolhidas e recicladas dentro da própria indústria, eliminando o descarte de resíduos. O EPS de até 12 kg/m³ dá origem ao Material Reciclado (MR), com densidade entre 9 e 10 kg/m³, muito próxima ao EPS (isopor) tipo 1F. Com um custo em média, 15 a 20% menor, é um produto bem aceito pelo mercado, principalmente da construção civil, onde pode ser empregado com algum tipo de revestimento, por exemplo, argamassa, ou para enchimento de lajes ou fôrmas.

Como e onde reciclar?

Por ser um tipo de plástico, o descarte do EPS pode ser feito em qualquer lixeira para coleta seletiva ou em pontos de entrega voluntária (PEV). Para saber o local exato para o descarte em sua cidade, basta entrar em contato com a Comissão Setorial EPS por meio do site da entidade.

O Grupo Isorecort também é apoiador do “Programa Isopor Amigo”, uma iniciativa que promove a sensibilização para o descarte correto de EPS (isopor) e ajuda organizações no engajamento dos colaboradores para a destinação correta deste material.

Acima de tudo, é preciso separar corretamente o material descartado para facilitar o seu tratamento e diminuir as chances de impactos nocivos para o ambiente. Todo esse processo passa pelo incentivo à responsabilidade compartilhada, por acordos multisetoriais que promovam a logística reversa, ambas preconizadas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), e finalmente, por campanhas de sensibilização para o consumidor final, que tem como propósito levar informação e conhecimento sobre as alternativas de reciclagem e reutilização do EPS.

Por isso, quando se fala em EPS ou “isopor”, é preciso ter atenção ao material, ao seu ciclo de vida e às suas possibilidades. Trata-se de um material que, por meio de tecnologia, é aplicado na construção civil, por exemplo, por suas características menos poluentes, de conforto térmico, sem desperdício de materiais e de redução de tempo e custos. Por ser um material leve de ser transportado, a escolha por produtos em EPS na construção influencia até mesmo no consumo de combustível dos veículos.

Finalizo deixando um questionamento: para obter conforto térmico em ambientes internos, seria mais benéfico consumir energia elétrica de fonte não renovável ou aplicar um isolamento em EPS para diminuir a troca térmica com o ambiente externo? São questões como esta que precisam ser apuradas quando pensamos na prática integral da sustentabilidade.